Peças do jogo
A noite vai alta. O silêncio
externo abre as portas para os ecos do passado e sussurra os murmúrios desse
tempo.
O dia se anuncia com o vento e
despe as falas e o momentos vividos, com clareza e objetividade. Revela o que
movimento do tempo presente faz à mente e ao coração.
Noite e dia. Mente e coração. O
que foi e o que é.
A mente descola do corpo e
convida o coração a voar. O tempo se tornou a chave perdida da algema que
impede o construir, o reconstruir e até mesmo o destruir. Tempo e vento que
passam exalando o perfume sobre a solitude do que veio e do que não veio.
Uma mistura de angústia e
esperança enche a caneca de café. A mente se acalma, mas o coração revolve. A
mente vagueia e o coração quer estacionar.
O envoltório da existência,
lógica-sentimentos e razão-desejos, moldando a esfinge que se senta no trono interior,
exposto diante de largas janelas sem vidro, colocado no salão onde tudo é dual.
Dualidade que pode ser antagônica ou não, espelho que mostra o que se vê e o
que não é mostrado, que revela o que não se vê e o que está oculto, mas não
escondido.
Move o tempo exterior, sacudindo
a mente, os sentimentos, enquanto petrifica o interior sordidamente
estacionando a razão, as esperanças.
A noite vai findando, o dia
levantando-se, mostrando que o quebra-cabeça tem muito mais peças do que a
visão imediata capta. A razão impele a continuar enquanto a lógica recomenda
aquietar, o sentimento pede quietude, mas a percepção impulsiona a desvendar.
As peças do jogo induzem a
aceitar, conformar-se, iludindo a lógica, enquanto a razão quer remexer as
peças, criando possibilidades de um novo resultado, desmontando os velhos
sentimentos confrontando os sob percepções encontradas na noite e que o dia
teima em distorcer.